quinta-feira, 15 de julho de 2010

CHAPTER 1 - Já chegou o disco voador... Não. Já se foi!


Quem será?
Ricardo, acho que é meu pai. Sai lá e diz que não estou aqui.
Mas Carlos...
Por favor. Não quero falar com meu pai.

O som da buzina se repetiu, só que de forma mais prolongada. Meu pai deduzia que eu estava na casa de Ricardo, mas não podia ter certeza, pois não havia dito nada antes de sair.

Vai lá Ricardo, rápido.

Ricardo saiu andando rápido, e meio que olhando para trás discordava da minha atitude. Ao sair pela porta chegando ao quintal se deparou com meu pai já no portão, em pé, olhando pra casa como se estivesse procurando algo, ou melhor, alguém. E é claro que ele estava. Motor do carro ainda ligado e porta semi-aberta.

O Carlos tá aí Ricardo?
Não Seu Marcos, por que?
Porque ele saiu de casa há pouco sem dizer onde ia, entao achei que ele pudesse estar aqui.
Não. Aqui ele não veio. Mas aconteceu alguma coisa pra ele ter saído assim sem avisar?
Não. Nada de mais. Bem, já que ele não está aqui, você sabe onde ele possa estar?
Não. Na verdade não to entendendo muito bem isso. O Carlos nunca fez isso antes.
Eu estou um pouco atrasado pro serviço. Preciso ir. Se o Carlos vir aqui fala pra ele ir pra casa. A mãe dele tá muito preocupada.
E o senhor?
Eu o que?
Não está preocupado?

Um encher e esvaziar de pulmões foi a resposta que Ricardo teve. Ele fechou a porta do carro e quando ia saindo Ricardo gritou.

Se ele aparecer eu dou o recado.

A resposta foi um buzinar de agradecimento. Quando Ricardo ia voltando pra dentro eu já o aguardava ancioso pra saber qual tinha sido o desfecho da conversa. Logo ele me contou tudo...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

CHAPTER 1 - O que há de errado?

Me fala o que aconteceu.
Ahh Ricardo, por que está sendo tão difícil? Cada vez que penso em falar com minha mãe, não consigo. Hoje que finalmente criei coragem deu tudo errado. Que merda!
Falar o que exatamente?

Nem precisei responder com palavras. Só com o jeito que olhei pra ele já respondi a pergunta.

Sério, mas por que? O que deu errado?
Tudo. Sabe, parece que minha mãe já sabe tudo, mas fica querendo tapar o sol com a peneira. Ela não percebe que assim é pior. Só dificulta pra mim. Minha relação em casa está ficando desgastada.
Olha Carlos, vou te falar uma coisa. Já te disse isso uma ou mais vezes, não sei. Mas você pensa que quando falei pra minha mãe foi tudo perfeito? É lógico que não. Ela também ficou muito triste e magoada. Com o tempo ela pode aceitar, e depois começar a entender. E outra, demorou pra chegar na relação que temos hoje. Isso leva tempo.
Eu sei Ricardo, só que parece que toda vez que estou perto de dizer, algo dá errado. Ou me falta coragem ou acontece alguma coisa bem na hora que acaba adiando. Hoje foi meu pai. Já tinha até começado a contar, só que minha mãe começou a dar xilique, aí meu pai entrou no meio da conversa, e deu tudo errado. Por que não pode ser um pouco mais fácil, hein?
Porque vivemos numa sociedado preconceituosa Carlos. Enquanto esse preconceito for enorme como é, nunca vamos conviver normalmente numa sociedade. Acho praticamente impossível todo esse preconceito acabar um dia. Enquanto aguardamos por esse acontecimento temos que dar nossa cara à tapa.
Não acho isso legal. Somos como qualquer outra pessoa "Ric". O que há de errado em gostar de meninos? Isso é uma coisa que não interfere na vida de ninguém. Por que as pessoas interferem tanto na nossa? Parece que somos doentes.
Nós sabemos que não somos. Isso basta.
Pra mim não.


Um barulho de buzina repetidamente interrompeu nossa conversa...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

CHAPTER 1 - Sem Apetite

Um carro poderia ter me atropelado que não daria a mínima nesse momento. Só não queria voltar pra casa. Estava indo pra casa do Ricardo. Ficava à uns 10 minutos da minha. Logo cheguei.

Ricarrrrrdoooo... Ricarrrdoooo...
Já voooou.

Ele saiu e abriu o portão.

Entra. Tô no fogão fazendo macarrão. Já almoçou? Acho que dá pra nós 2 se você não estiver com muita fome.

Nesse momento ele realmente me olhou nos olhos e percebeu que eu tinha lágrimas no rosto.

Ohh cara, quê que foi? Aconteceu alguma coisa? Entrai vai. Vamos conversar.

Amigos... Que bom ter onde recorrer nesses momentos.
Passamos pela sala e fomos pra cozinha. Ele terminava de fazer o macarrão. Seus pais eram separados. Sua mãe, Dona Lúcia, estava no salão, onde era dona e a cabeleireira mais procurada. Já me sentia melhor de estar junto de um ombro amigo. Não só um amigo, mas o melhor dentre eles.
Dona Lúcia me tratava muito bem e gostava muito de mim e da amizade que eu e o filho dela tinhamos. Eu também gostava muito dela e da relação que ela levava com Ricardo. Não era mentira que o fato de Ricardo ser assumido pra sua mãe me inevejava, uma vez que o carinho dela para com ele só aumentou desde então.
Porém naquele momento era melhor estarmos sós, Ricardo e eu. Precisava desabafar. Conversar com alguém e quem sabe depois ficar um pouco sozinho. Talvez conversar um pouco com Deus. Mas não foi bem assim que aconteceu...
Peguei uma cerveja antes de começar a falar.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

CHAPTER 1 - Cliente 1 X Filho 0

Carlos, por que sua mãe está chorando? Aliás, por que vocês estão chorando?Você sabe que eu não vou trabalhar enquanto eu não souber o que acontece aqui, certo.

Meu pai retirou seu celular do bolso e ligou pro seu amigo e sócio. Ele era advogado e tinha um escritório junto com Arthur.

Arthur vou chegar um pouco atrasado hoje ok. Estou com uns probleminhas aqui em casa, mas logo estarei aí. Se chegar algum cliente meu você fala pra aguardar um pouco. Até logo.

Sem dar chance de resposta e diálogo à seu amigo, ele desligou o telefone e voltou-se a mim.

Começa a falar. Você está namorando há quanto tempo? A moça está grávida. Só pode ser isso. Por isso que não param de chorar. Como Carlos? Me diz como você deixou isso acontecer? Com tantas formas escancaradas de prevenção. Pelo amor de...
Chegaaa!

Dessa vez fui eu quem gritou. Meu pai ficou perplexo por eu ter falado alto com ele. Era visível em seu olhar.

Pára com isso. Como você pode tirar essas conclusões ridículas. Você só pensa no seu trabalho. Você não sabe nada sobre mim e não tem o menor interesse em saber. E agora se acha no direito de me interrogar, de querer esclarecer minha vida. Dá um tempo. Não quero conversar com o senhor. Vai trabalhar que é melhor.
Eu disse que não vou sair daqui hoje enquanto essa situação não se resolver.
Ótimo. Fique então o senhor aí... Sozinho, porque eu estou saindo.
Volta aqui Carlos. Eu não vou perder meu cliente hoje por sua causa.
Eu sei que não. Seu cliente é mais importante que seu filho. É por isso que o deixo à vontade pra ir trabalhar.


Olhei bem nos seus olhos...

Quem sabe um dia o senhor mereça me ouvir.

Dei as costas. Arrebentei a porta da sala e tomei o caminho da rua. Ao longe podia ouvir meu pai gritando pra que eu voltasse. Sequer olhei para trás...

domingo, 4 de julho de 2010

CHAPTER 1 - Espero que não me atrasem...


Nos entreolhamos.

Fala mãe o que tá acontecendo. A senhora não queria chamar o pai. Aproveita agora então e diz pra ele o que tá acontecendo.

Todos em silêncio. Meu pai olhou bem pra minha mãe e viu que ela começava a chorar.

Vamos lá. Carlos me fala o que houve agora. Celma por quê você está chorando?

O Silêncio continuou...

Alguém fala alguma coisa.
Seu filho disse que está namorando Marcos.
Hum, certo. E qual o motivo do choro então?

Minha mãe não respondeu. Nessa hora eu estava voltando a chorar novamente. Meu pai se pronunciou em tom muito alto.

Por que estão chorando? Falem logo. Já estão me deixando nervoso. Vão me atrasar pro trabalho. Odeio trabalhar assim. Me digam logo o que é. E Você garoto? Não era pra estar feliz por estar namorando?

Novamente meu pai falava sozinho. Não houve respostas.

Celma vai pro quarto um pouco. Eu quero conversar com ele a sós.
Mas Marcos...
Celma... Vai.

Pressionada sob uma quase ordem ela abandonou a cena e como quem desejava boa sorte deu uma leve olhada pra trás e subiu as escadas.

sábado, 3 de julho de 2010

CHAPTER 1 - Deixe me apresentar

Quando se preparou para sair em direção ao quarto ficou imóvel. Eu a segurava firmemente pelo braço. Minha atitude calou-se no silêncio dos nossos olhares.

Por quê?

Nesse momento entalou em minha garganta as palavras que mudariam minha vida a partir daquele instante. Minha respiração começava a ficar ofegante e eu nervoso.

O que foi? Por que não quer que eu chame seu pai? Você já contou algo pra ele ou não quer que ele saiba ainda?

Com minha cabeça flexionada para baixo, comecei a balança-la como sinal de negatividade, de descordância , de incompreensão. Como uma mãe que convive com um filho pode não o conhecer?

Seu pai vai gostar de saber.
Não mãe, você não entende mesmo.
Não entendo o quê? O que mais você quer me falar? Sei que não é só isso.
Pois é. A senhora acha que me conhece, mas se realmente me conhecesse saberia o que estou tentando lhe dizer agora, ou melhor, nem precsariamos ter essa conversa.
Do que você está falando?
Mãe, você sabe do que eu tô falando. Chega. Pensa só um pouquinho vai, e se chegar a alguma conclusão me diga qual foi sem querer fugir. Facilita um pouco pra mim.


Nesse momento um sentimento estranho já tomava conta do meu corpo e mente. Lágrimas que contianuavam escorrendo discretamente pelo me rosto estavam se transformando em chamas que ardiam em meus olhos. Podia ver as lágrimas brotarem no rosto de minha mãe. Há muito tempo não via ela chorar. Talvez não por falta de vontade, mas por repreensão.
Ainda com o laço da gravata desfeito meu pai chegou na cozinha...

O que está acontecendo?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

CHAPTER 1 - Quer que desenhe???

Por um momento vi um sorriso em seu rosto, mas que em alguns breves segundos se desfez. Me olhou seriamente no fundo dos olhos.

Sério filho, que bom. Vai, me conta, quero saber tudo. Como "ela" é? De onde? Eu conheço?
Mãe você não está vendo que eu estou chorando?
Calma filho, não é pra tanto. Ao menos que eu sei é sua primeira namoradinha. Vem cá, me dá um abraço vai.

Levantou-se rapidamente em minha direção e se preparou para me abraçar.

Levanta, deixa eu te dar um abraço.

Nesse momento, puxado por ela fui erguido de minha cadeira e senti aquele abraço de uma pessoa só me envolver. Abraço que logo se transformaria em repudio.

Deixa eu chamar seu pai. Nossa... ele vai adorar saber disso.
Nãoooo.

O meu grito congelou a cena.



quarta-feira, 30 de junho de 2010

CHAPTER 1 - Sente-se


Mãe, eu preciso falar com a senhora.
O que foi que aconteceu?
Nada, eu só preciso te contar uma coisa.
Humm, que cara é essa hein? É rápido? Porque eu to fazendo almoço, e se atrasar seu pai chega atrasado no trabalho.
Não mãe, é rápido, senta aí que eu vou falar.
Sentar? Pra quê? Você não disse que é rápido?
Senta aí mãe...

Com a mão no ombro de minha mãe fui encostando suas costas na cadeira de forma que a fizesse sentar-se bem lentamente.

Que foi? Fala logo.
Mãe, tá sendo muito difícil falar isso com a senhora, eu espero que a senhora me entenda.

Nesse momento eu me sentei na outra cadeira ao redor da mesa. Estávamos na cozinha. Minha mãe realmente terminava o almoço, pois às 14 hrs meu pai saía pra trabalhar. Almoçar às 13:30 hrs era sagrado.
Fiquei de frente pra ela. Meus olhos já estavam cheios de lágrimas. Percebuia que minha mãe mudava sua feição ao me olhar. Ela queria tomar alguma atitude ou perguntar alguma coisa, mas continuava ali estática a me observar, como se soubesse o que eu tinha a lhe dizer, ou pelo menos imaginava. Respirei fundo e saiu.

Mãe, estou namorando.

CHAPTER 1 - Decisão

"Isso" já não saía da minha cabeça. Eles eram meus pais. Vivia com eles há 18 anos. Eles não podiam viver numa ilusão pra sempre; nem eu. Tinham que me amar sendo eu quem realmente era. Amar as pessoas tendo uma imagem delas de como queremos que elas sejam é fácil. Se eles assim me amassem seria "a pessoa mis feliz do mundo". Não podia mais esperar. Ficar com isso dentro de mim sem dividir com eles, sem saber como eles realmente reagiriam. Não cabia mais dentro de mim. Esse sentimento tinha que ser expresso e este era o momento. Talvez não o momento certo, mas o meu momento. Falaria primeiro com minha mãe, pois acreditava num apoio de sua parte. Depois disso aí sim iria encarar meu pai. Não imagino como ele reagiria.
Saí do meu quarto. Desci as escadas, passei pela sala até chegar na cozinha. Minha mãe estava lá. As palvras se formavam na minha boca, mas custaram a sair.

terça-feira, 29 de junho de 2010

PRÓLOGO


Olhamo-nos nos olhos
Tu sorriste e disseste que havia um lugar encantado;
Um jardim, e que me levarias a conhecê-lo.

Estendeste a tua mão.
Peguei nela e segui a teu lado; confiante.

Aquele portão dourado abriu-se,
E enquanto avançávamos por aquele jardim encantado,
As flores curvavam-se com um sorriso.

O sol brilhava em todo o seu esplendor.
E enquanto eu sonhava ao sentir-me aconchegado nesse paraíso,
Perdi-me de ti.

O vento uivou fortemente, a chuva começou a cair.
Apenas senti frio e uma tristeza enorme.
O jardim transformou-se numa selva.

Eu fiquei sozinho, em busca de uma saída.
O jardim encantado desapareceu.
No seu lugar ficou apenas uma imagem.

Dois seres,
Caminhando de mãos dadas,
No meio do colorido das flores.

SOLITÁRIO JARDIM


Solitário Jardim é uma obra minha pessoal. Já comecei várias vezes a escrever, porém nunca havia concluído uma obra... Nessa porém eu alcancei essa dádiva. Verdade é que eu nunca consegui publicá-la, porém é muito maior minha vontade de que as pessoas possam ler. É algo cru. Vou postar pouco à pouco e espero que gostem do que vão ler!!!!